Sem me sentir particularmente disposto para criar coisas novas, nos últimos dias decidi direcionar minha energia para organizar meus projetos. Arrumar a casa. Arrumar a casa é uma boa atividade terapêutica. No caso estou falando sobre arrumar a minha casa virtual, isso é, meu site (ou meus sites, já que um perfil numa rede social também é uma base), onde habita meus trabalhos em andamento: textos, livros, desenhos, vídeos.
Analisando minhas criações dos últimos anos, percebi que, embora muitas vezes eu crie de forma intuitiva, explorando meus sentimentos e pensamentos do momento, certos temas se repetem com frequência. Cultura, criatividade, processos e comportamento criativo na era digital se tornaram o fio condutor da minha produção. Para mim, escrever é uma forma de pensar e organizar meus pensamentos. Publicar meus textos online é como registrar meu aprendizado e compartilhar minhas reflexões com o mundo. Daí achei necessário deixar as descrições dos meus trabalhos mais objetivas, informando aos visitantes que tipo de assunto vão encontrar por ali.
Além disso, tenho escrito regularmente uma coluna no LinkedIn sobre o trabalho criativo contemporâneo. Como o meu site é um repositório do que faço, esses textos acabam indo pra lá também. A newsletter por enquanto continua no Substack. Aliás, tirei o paywall que existiu por um tempo nessa newsletter. Na verdade não sei porque havia colocado isso se sou contra restringir acesso à conteúdo. Mais ainda: acho péssimo o sistema de assinatura proposto pelo Substack, seria muito mais fácil e barato pagarmos uma assinatura única e termos acesso a tudo (como fazem os streamings) do que ter que pagar uma por uma. Agora os textos aqui estão livres disso, podem voar por aí. O podcast está disponível no Anchor (e nas plataformas) e os desenhos encontram seus leitores no Instagram.
Embora reconheça os benefícios do Instagram para minha carreira, tenho uma relação ambígua com a rede. Decidi estabelecer uma rotina para lidar com isso: postarei duas vezes por semana, nas segundas e sextas-feiras. Serão os dias em que vou publicar, responder comentários, mensagens, interagir com as pessoas e conferir o que mais estiverem postando por lá. É claro que há a possibilidade de aparecer em outros dias, dependendo das circunstâncias.
E acreditem, estou considerando começar a produzir vídeos para o Tik Tok. Eu sei, eu sei, eu mesmo já falei tanto mal, mas tenho tido umas ideias que podem agregar a todo esse conteúdo que venho criando sobre cultura, arte, internet, processos criativos e criatividade nos dias de hoje.
Assim (mal) caminha a humanidade.
E vamos.
📘PARA LER
Quanto vale um trabalho de arte? Por que determinada pintura custa mais do que outra? O valor é medido apenas pelo gosto? A precificação na arte é uma ciência complexa e a fotógrafa Raquel Pellicano desenvolve essa reflexão com base na sua experiência profissional. “Trabalhos artísticos e criativos devem ser cada vez mais valorizados - não vejo razão para serem mais baratos que o trabalho de um advogado, um médico ou um engenheiro”, ela escreve. “Já deixei de comprar obras que eu amava porque o preço não cabia no meu bolso naquele momento. Mas eu jamais teria a ousadia de rotulá-las 'caras demais'.”
Em texto para a Superinteressante, o jornalista Bruno Vaiano reflete como a decadência do Facebook explica a internet. Essas plataformas estão passando por um processo de declínio em três estágios. Essa é a tese do crítico de tecnologia Cory Doctorow que batizou esses estágios de enshitification. “Primeiro, as plataformas são boas com seus usuários; depois, elas abusam dos usuários para tornar as coisas melhores para seus parceiros de negócios; por fim, elas abusam desses parceiros para reaver todo o valor para si mesmas. Então, elas morrem”.
O TikTok está matando os clipes? Afinal, conseguir que as pessoas permaneçam na mesma tela durante toda a duração de uma música na era de scrolling é realmente difícil. A verba que antes era dedicada à filmagem de um único clipe agora tem de ser dividida por várias faixas e em conteúdos para as redes.
O CEO da Stufish, empresa que faz a cenografia para shows de nomes como Beyoncé e Elton John, conta que o desenho dos palcos é criado para ser visto não apenas por quem vai ao estádio ou ao ginásio, mas para quem vai ver pelo TikTok ou pelo Instagram. "Basicamente, qualquer show será julgado pelo momento em que alguém apertou o botão 'enviar' na foto. Portanto, você precisa ter certeza de que aquilo para o qual eles apontam a câmera, ficará bem na tela.”
“Pensam que a gente é besta”, resume o dono de um restaurante a respeito dos influencers que querem serviços e produtos de graça em troca de um post nas redes. Segundo reportagem da Folha, no Brasil há cerca de 10,5 milhões de influenciadores, só no Instagram. Eles estão influenciando o quê? Quem? E para quê tanta gente precisa ser influenciada?
Quando Nataly abriu o TikTok viu que seu namorado estava sendo cortejado por milhares de garotas por conta de um simples vídeo que postou tocando um cover de uma música da Taylor Swift. “Eu simplesmente me apaixonei”, comentou uma delas. “É isso que quero dizer quando digo que meu tipo são guitarristas”, escreveu outra. Enquanto Nataly pensou “Por mais que eu estivesse animada por ele, não posso mentir, isso me deixou insegura”. Uma questão contemporânea que casais vêm lidando é quando a internet fica afim do seu namorado ou namorada.
📺 PARA VER
Indicação preciosa: Artvee é onde você pode navegar e baixar cópias em alta resolução de arte clássica e moderna que são de domínio público. É grátis e você pode fazer o que quiser com essas imagens. Algumas das minhas coisas favoritas são as artes dos livros ilustrados.
Primeiro, Theodora Prado saiu da roça onde foi criada e foi trabalhar no mercado financeiro. Depois largou o terninho, o salto e os gráficos e foi morar em alto mar. Hoje ela trabalha como skipper, transportando veleiros de um canto a outro, atravessando o Atlântico. Nesta entrevista ela conta sua história. Assista até o final para ouvir a história de quando ela perdeu seu veleiro em uma tempestade e como fez para ter tudo de volta.
O que falamos quando falamos sobre solidão feminina? Bem, enquanto homem não vou palestrar sobre isso aqui, mas em conversas com mulheres entendi que existe o lado ruim da solidão e o lado bom. Em seu canal no YouTube, Julia Battastini indica livros sobre solidão feminina, livros que não necessariamente as personagens estão isoladas no mundo, mas também que apresentam essa solidão com alegria e conforto.
Considerado o maior ator da história, se estivesse vivo, Marlon Brando completaria 100 anos. Ele proporcionou uma virada na sua arte por ser o primeiro ator a transmitir uma complexidade masculina em cena. Em uma época onde homens eram retratados como cowboys, valentões, sisudos, viris, Brando trouxe fragilidade, lágrimas e angústia. Além de beleza, né, queridas. O crítico de cinema Pablo Villaça elenca as 10 performances que mais gosta do mito (esse sim).
A última série que assisti chama-se The Curse. Criada por ninguém menos que Nathan Fielder e Benny Safdie, e protagonizada por Emma Stone, é um troço indescritível. Não existe nada igual. Comédia ácida, estranha, muitas vezes indigesta. Como sei que não tem nada parecido com isso, tenho vontade de ver de novo.
“Closeness lines over time”, da ilustradora Olivia de Recat, é um exemplo de uma obra de arte que consegue expressar de forma simples questões e sentimentos complexos e às vezes indescritíveis.
Longyearbyen fica na ilha de Spitsbergen, na Noruega, e conta com 2144 habitantes. É a cidade mais setentrional do planeta. Lá, o sol nunca nasce! Você moraria?
Arte no Instagram
O Instagram já foi uma plataforma de exibição de arte. Em reverência aos artistas que ainda tentam usar seus perfis para publicar seus trabalhos (como eu), agora vou passar a compartilhar por aqui algumas dicas para você conhecer e seguir.
🎧 PARA OUVIR
No podcast “Clodovil do Avesso”, acompanhamos a infância no interior paulista do menino estudioso, com dotes para a costura e mão para o desenho. Na vida adulta, apesar dos embates com o movimento gay, Clodovil foi um dos primeiros homens a se declarar homossexual publicamente. Essas e outras contradições estão nos episódios que, por meio de entrevistas e pesquisa de áudio, vão acompanhar o apresentador e costureiro até a chegada em Brasília, como deputado federal.
Duas atrizes entrevistam atores e profissionais que lidam com atores e conversam sobre a nada fácil profissão. Se demorar a gente espera é um podcast criado pela Mayara Constantino e Renata Gaspar, juntas compartilham os desafios do meio artístico com bom humor, sacadas e babados.
Places, de Büşra Kayıkçı traz solos de pianos simples e delicados, muitas vezes hipnóticos. A influência das suas composições está no trabalho que desenvolvia como arquiteta de interiores. “Fui profundamente influenciada pela forma como estas duas disciplinas – arquitectura e música – trabalham com os mesmos princípios: uma dirigida ao ouvido e outra ao olho.” É uma música para estar.
Daí tu quer ouvir uma rádio da Itália e descobre uma música que o algoritmo jamais te mostraria. Você pode. O OneStop Radio é uma plataforma com mais de 65 mil emissoras de rádio de 230 países.
📘 LIVRO
O decênio decisivo: propostas para uma política de sobrevivência - de Luiz Marques
O decênio decisivo reúne, com grande rigor científico, uma quantidade imensa de dados que estão na fronteira do conhecimento acerca dos impactos das mudanças climáticas sobre a vida na Terra, apontando o futuro excruciante que virá caso não rompamos com os pilares do capitalismo contemporâneo, e elencando as possibilidades de ação imediata para evitar que a catástrofe seja ainda maior. Da leitura, depreende-se que o momento presente é o mais crucial de nossa história como espécie, pois é agora que decidiremos, coletivamente, as chances de sobrevivência do projeto humano.
✍🏼 FRASE
Quando encontramos uma obra de arte, há algo nesse encontro que não está preso no tempo, mas sim, que está além do tempo. O passado e o presente existem no mesmo momento, e sabemos que estamos conectados. Todas as pessoas que viveram antes de nós, todas as que virão depois de nós, estão conectadas neste momento.
— Ali Smith
💾 ARQUIVO (Junho de 2023)
Você não precisa de estímulos de remédios ou cafeína para focar no trabalho. Você precisa se movimentar. Quando você fica sentado por um longo período de tempo, sua respiração fica mais superficial e lenta, o sangue se deposita nas partes baixas do corpo como o quadril, portanto, menos oxigenação, mais relaxamento e preguiça. Já quando seu corpo está em movimento, o número de respirações a cada minuto aumenta e se torna mais profunda, logo, a quantidade de oxigênio no cérebro também aumenta, intensificando a capacidade de foco e concentração.