Reels pra 70 anos, idolatria, lições da morte, roleta de emoções, arte da escuta
Por que escrevemos? Uma das respostas mais comuns é: porque se não escrever, eu enlouqueço. Muitos de nós nos identificamos com essa sensação. Escrever é como abrir uma válvula por onde é possível liberar a pressão dos pensamentos repetitivos. É uma maneira de dar forma ao abstrato. Se não escrevo, sinto como se houvesse um bloqueio no meu sistema. Preciso escrever para liberar esses pensamentos. Seja em um blog, num diário ou até mesmo em guardanapos, o importante é tirar essas ideias da mente e colocá-las no papel.
“Se eu não escrever, eu enlouqueço”, é o que dizem. Quando eu tinha 20 anos, eu também dizia isso. Nunca deixou de ser verdade, mas hoje minha resposta vai além.
Escrever para Opinar e Compartilhar
Durante muitos anos, escrevi para emitir opiniões. Dos 25 aos 30 anos, fui editor do ORNITORRINCO, onde compartilhava minhas visões sobre filmes, livros e discos. Até que chegou um momento em que percebi que havia opiniões demais na internet. Para quê saber o que alguém que você nem conhece achou de um filme? Passei a ter fadiga deste tipo de texto e então comecei a produzir outro tipo de conteúdo: venho escrevendo para registrar o que estudei e para compartilhar o que aprendi. Esses textos funcionam como um caderno público, onde anoto ideias e pensamentos e compartilho com quem quiser ler. Como meu campo de estudo é arte e cultura, esses textos naturalmente giram em torno desses temas.
A Versatilidade dos Ensaios e o Prazer da Ficção
Por muito tempo escrevi ensaios que misturavam visão pessoal, informações específicas, análises e experiências. É um dos meus estilos favoritos tanto de escrever como de ler, algo que se aproxima do documentário de autor (como os filmes do Werner Herzog). Mas dava um trabalho imenso, muitos dias de pesquisa e escrita, e fui deixando de fazer enquanto outras atividades foram tomando mais o meu tempo (como as demandas de ser pai). A maioria desses ensaios foram publicados no "A Desobediência do Escritor”.
Escrevi ficção para teatro e filmes curtos. E no meu tempo livre também inventava histórias simplesmente porque era divertido. Pego um assunto ou questão que me interessa e, em vez de desenvolver um texto crítico, invento personagens, situações e cenas. Em 2020, juntei ficções que escrevi sobre um mesmo tema e publiquei uma coleção chamada “Pessoas Extraordinárias".
Desenhos e Escrita: Uma Conexão
Meus desenhos também são, para mim, uma forma de escrita. Cada desenho que faço nasceu de uma frase, um pensamento ou um texto. Esses escritos estão entre não ficção e ficção. Porque eu crio um universo próprio (ficção) mas também transmito uma mensagem bem específica sobre algum assunto do momento (não ficção).
__
Escrever é uma forma de entender a nós mesmos e o mundo ao nosso redor.
Hoje, se tivesse que responder rapidamente à pergunta “por que você escreve?”, eu diria: porque gosto de compartilhar o que penso e o que aprendi.
[Texto foi publicado primeiramente no site]
📘 PARA LER
Reinvenção digital na terceira idade - Em um post no LinkedIn, Gustavo Miller questiona se é justo exigir que uma profissional de 70 anos, como a sua mãe, uma dermatologista com mais de 40 anos de experiência, aprenda a fazer vídeos curtos (como Reels ou TikTok). Ela precisa disso para competir com outras dermatologistas que têm grande presença nas redes sociais, muitas vezes sem a devida qualificação, como no caso recente onde um paciente morreu após um procedimento realizado por uma "profissional" de 27 anos, sem licença, mas com 200 mil seguidores no Instagram.
Coachella: música ou FOMO? - Damon Albarn, vocalista do Blur, tacou fogo no parquinho ao dizer que festivais grandes, como o Coachella, deixou de ser sobre música e virou um evento para influenciadores digitais gerarem conteúdo e causar FOMO.. Ele aponta que o foco mudou de experiência musical para uma vitrine de vida perfeita nas redes sociais.
Dentro da cidade do iPhone - Uma reportagem reveladora de três meses dentro da fábrica da Foxconn na China, onde são produzidos os iPhones. O artigo expõe as duras condições de trabalho e a realidade por trás da produção de um dos dispositivos mais cobiçados do mundo.
Idolatria e humanização - A newsletter "Vou Te Contar" discute o fenômeno da idolatria e a importância de humanizar figuras públicas, usando como exemplo o "johnlenismo", a devoção quase religiosa a John Lennon. Uma reflexão sobre como equilibrar admiração e realidade.
A criatividade como estilo de vida - Um guia para incorporar a criatividade no cotidiano através da leitura. A fotógrafa Raquel Pellicano traz sugestões de livros e práticas para despertar e cultivar a criatividade como estilo de vida.
Lições da morte sobre a vida - Enfrentar o fim de ciclos, relacionamentos ou fases da vida pode ser desafiador. Todo mundo sabe que a morte é a única certeza da vida, mas isso não torna o assunto mais fácil de ser assimilado. Ninguém vive lembrando o tempo todo que um dia vai morrer. Profissionais de cuidados paliativos, que atendem pessoas com doenças graves, compartilham o que eles costumam ouvir desses pacientes. Ensinamentos que vão desde a importância de viver no presente até valorizar relacionamentos e experiências.
📺 PARA VER
Avaliação de designs diários - Neste site, designers submetem seus trabalhos para avaliação de outros profissionais. Diariamente, o design mais votado é destacado, oferecendo uma plataforma dinâmica para inovação e inspiração.
A roleta russa das emoções - Navegar pelas redes sociais é uma experiência imprevisível, capaz de evocar uma ampla gama de emoções. Este vídeo da Dani Arraes explica bem essa dinâmica de sentimentos variados e muitas vezes contraditórios, e como melhor lidar com isso.
Crie para e por você - "Eu não faço arte para minha audiência. Eu faço para mim. E acontece que quando você faz uma coisa verdadeiramente pra você, você estará fazendo o melhor possível para a sua audiência." O icônico produtor musical Rick Rubin compartilha uma visão inspiradora sobre a criação artística: fazer arte para si mesmo em vez de para os outros.
Os celulares mais feios da história - O Mobile Phone Museum apresenta uma coleção dos celulares mais feios já lançados. Uma viagem nostálgica e engraçada pelo design desastroso dos dispositivos móveis.
🎧 PARA OUVIR
Por que você continua nas redes? - Neste episódio do podcast Escafandro, acompanhamos reflexões sobre o que nos torna tão viciados em redes sociais. Ele apresenta um estudo que conseguiu estipular o real valor que jovens universitários dão às redes. Nele, 48% dos entrevistados disseram que prefeririam viver num mundo sem Instagram.
Se ela não sabe, quem sabe? - No novo podcast da Folha, a escritora e roteirista Tati Bernardi conversa com mulheres experientes para obter conselhos valiosos. No primeiro episódio, Fernanda Torres fala sobre sua vida pessoal e profissional, oferecendo uma perspectiva honesta e inspiradora sobre os desafios e alegrias de envelhecer.
O fim dos ídolos - Na edição 261 do podcast Resumido: o fim dos ídolos, IA é cara demais, TikTok banido nos EUA, cachorro robô lança-chamas, gringos caçam likes no Brasil, encontros online e namoro sintético
Recomeçar - O primeiro disco solo de Tim Bernardes é uma obra introspectiva sobre superar uma desilusão amorosa. Com letras sinceras e melodias tocantes, o álbum é um companheiro perfeito para momentos de reflexão e cura.
📘 LIVRO
A Arte da Escuta: desenvolvendo a criatividade pela prática da atenção - de Julia Cameron
Da mesma autora do best-seller "O caminho do artista", este livro apresenta um método capaz de conduzir você a um novo nível de conexão pessoal e realização criativa. Ao longo de seis semanas, você será convidado a executar pequenas tarefas para ampliar sua capacidade de escutar as pessoas e perceber o ambiente ao redor. Quando aprendemos a escutar de verdade, nossa atenção é aguçada e ganhamos autoconhecimento e inspiração. Além disso, despertamos a criatividade de um modo que ressoa em todos os aspectos da nossa vida. Em uma cultura de agitação e barulho incessantes, este livro é um lembrete do poder transformador da escuta genuína.
✍🏼 FRASE
Tudo de bom que aconteceu na minha carreira de escritor ocorreu porque alguém, normalmente outro escritor, me ajudou. Indicou-me para algo, falou bem de mim, e assim por diante. A ideia sempre foi que você ajude os outros e eles ajudem outros em retorno. Não é um jogo de ganhar ou perder.
— Neil Gaiman
💾 ARQUIVO (Fevereiro de 2022)
Fica a dica: prazer na escrita, xadrez, nada se repete, mau comportamento
Desde o mês de dezembro até agora fiquei afastado das redes sociais. Por redes sociais leia-se Instagram, pois continuei acessando o Twitter que, pra mim, funciona mais como um agregador de conteúdo do que recreio social. Por lá acabo postando recomendações de coisas que ando lendo, ouvindo e vendo, além das maluquices que passam na minha cabeça. Tenho poucos seguidores, ninguém dá a mínima, então é um pouco como se falasse sozinho e isso é ótimo pois não gera gatilhos de ansiedade e expectativas como acontece no Instagram. Já falei sobre isso no podcast no episódio chamado Instagram é uma droga.eu
Cara, tua newsletter é uma das que mais gosto de receber. Fico genuinamente feliz quando a vejo na caixa de entrada.