Publiquei uma nova edição do Diálogo Elétrico, o meu projeto de entrevistas com escritores contemporâneos. O papo funciona virtualmente e pode levar o tempo de qualquer bate papo que temos na internet. No caso, conversei com o escritor carioca Leonardo Villa-Forte por whatsapp. Falamos sobre assuntos expostos no seu último livro “Escrever sem escrever". Neste livro, Villa-Forte partiu das noções de “escrita não-criativa” de Kenneth Goldsmith, do “Manifesto da Literatura Sampler” de Fred Coelho e Mauro Gaspar para analisar obras recentes de escritores e artistas, refletindo sobre formas de produzir literatura nos dias de hoje. A conversa aconteceu entre o dia 20 de Novembro e 13 de Dezembro de 2019, em alguns momentos trocamos mensagens (entre parêntesis) comentando o tempo do processo de diálogo tão comum no aplicativo e optei por manter esses trechos por funcionarem como uma meta-entrevista. Leia aqui.
Cultura é Política. "Não há na História da humanidade uma civilização que tenha se destacado no tempo, restado na lembrança dos seus povos e nos livros de História como paradigma, sem ter aliado à sua jornada política uma produção cultural exuberante".
O Começo da Leitura. O premiado escritor de livros infanto-juvenis Pedro Bandeira recomenda cinco títulos clássicos mas não tão famosos para encantar adolescentes (e adultos também).
Reclame menos, escreva mais. Luiza Voll escreve sobre um novo exercício que a fez enfrentar sua procrastinação: "Todos temos nossas reclamações de estimação. Sem elas, a responsabilidade pelo que nos acontece recai sobre nós mesmas. Claro que todos nós precisamos de tempo para elaborar nossos sentimentos e a verdade é que algumas reclamações podem, sim, durar anos em nossas vidas. O que achei diferente ao vê-las escritas no papel foi a necessidade que senti de fazer algo sobre elas."
Duas reportagens sérias produzidas por alguns dos grandes contadores de histórias reais do país:
Os Entregadores. São Paulo tem 30 mil entregadores ciclistas de apps, a maioria entre 18 e 27 anos. Os ciclistas com caixas nas costas tomam as paisagens dos centros comerciais nas horas de pico da fome, além de serem presença constante em calçadas próximas a shopping centers, restaurantes ou supermercados nos fins de semana. Eles trabalham 12h por dia, 7 dias por semana, para fazer, em média R$ 936 por mês. “A gente não descansa”, diz Samuel Marques. “Não me lembro da minha última folga desde que comecei a trabalhar com isso, um ano atrás. Toda as vezes que sento para assistir televisão em casa, penso que poderia estar pedalando e fazendo algum dinheiro.”
De onde vem a bala? Os excelentes repórteres Cecília Olliveira e Leandro Demori percorreram zonas de confrontos violentos no Rio de Janeiro. Eles coletaram 137 cápsulas de munição do chão em 27 bairros por 100 dias nos instantes posteriores a trocas de tiros. Com essas informações eles buscam responder de onde vêm as balas que empilham corpos e matam quase 1500 pessoas por ano pela cidade.
Nesta entrevista a escritora e jornalista Eliane Brum fala sobre a arte de escrever para não matar e para não morrer. Trecho:
Essa determinação já havia nascido com a menina que pariu a mulher. Quando tinha cinco ou seis anos, durante a ditadura militar, seu pai era presidente de uma faculdade comunitária em Ijuí, e um de seus projetos era uma escola "que tinha muito o espírito do Paulo Freire". Naquela época, a prefeitura achou aquela escola subversiva e, em uma reunião, Eliane viu o pai ser humilhado pelo prefeito. A escola foi retirada da administração da faculdade. "Aquela experiência foi tão chocante para mim, que voltei para casa e fiquei pensando em como eu ia responder àquela injustiça. E aí, na minha cabeça de criança, resolvi botar fogo na prefeitura", conta. De madrugada, antes de todos da casa acordarem, Eliane colocou uma caixa de fósforo dentro do bolso do vestido e atravessou a praça que separava sua casa da sede municipal. "Eu fui e acendi o fósforo. Na minha cabeça, era só acendê-lo que conseguiria queimar a prefeitura. É claro que gastei a caixa de fósforos inteira e não consegui. Aí, voltei para casa com uma mistura de humilhação e alívio. Meu primeiro ato revolucionário, rebelde, foi fracassado. Mas serviu para descobrir, aos poucos, que escrever era um jeito de lutar sem botar fogo".
“Eu trabalho bem durante uma garrafa e meia de vinho. Depois, sou como qualquer velho bêbado de bar: repetitivo e chato.”
Charles Bukowski sobre seu processo de escrita. Curiosamente, quando foi diagnosticado com leucemia, percebeu que era capaz de escrever de forma brilhante sem álcool ou tabaco. Só teve um ano para comprovar isso, antes de morrer em 1994.