Recomeçar
Pois então, já faz um tempo. A última edição do O Leitor foi enviada em fevereiro de 2018. Houve um ou outro e-mail depois disso mas não eram edições de fato. Agora, após meses de planejamento, retomo a máquina para anunciar que o projeto vai voltar. Aliás, já está voltando. Quero dizer, este aqui já é o retorno. E como tudo o que passa, isto aqui será diferente.
Mas primeiro devo dizer porque parei.
Dois mil e dezoito
Já podemos dizer que 2018 acabou? Ou nunca vai acabar? Este ano não foi um ano simples, não é mesmo? Fomos bombardeados diariamente por uma torrente de acontecimentos, notícias verdadeiras, notícias falsas, textões, tweets, memes, discussão de facebook, discussão de whatsapp, etc, isso apenas no campo público, porque também seguimos lidando com acontecimentos nas nossas vidas íntimas. Acredito que para todas as pessoas, 2018 foi um ano de mudanças profissionais e pessoais.
Pois bem, você que acompanha isso aqui há algum tempo sabe que esta newsletter funcionava como uma curadoria de textos de não ficção selecionados por mim e que eram compartilhados em edições fechadas para assinantes. A primeira edição foi lançada em abril de 2015 e até fevereiro de 2018 foram enviadas umas 150 edições. Toda semana eu lia uns trocentos textos, selecionava os que considerava importantes e escrevia um mini resumo de cada um e um editorial contando coisas que aconteceram comigo. Parecia uma coisa natural de se fazer, afinal, a leitura desses textos era algo que eu fazia diariamente. Algumas vezes contei com a colaboração de amigos para fechar as edições mas na maioria das vezes eu fiz tudo sozinho. E de graça, sem ganhar nenhum tostão pelo tempo investido em leitura e escrita. Eu não sei como consegui. Mas era divertido enviar o conteúdo e receber comentários e opiniões dos assinantes. Funcionou bem durante um tempo, mas aí...
Chegou um momento ali no início de 2018 que eu não aguentava mais ler. Ou melhor, eu nunca deixei de ler, continuei lendo compulsivamente, no entanto eu não aguentava mais ler notícias, não conseguia mais acompanhar a enxurrada de "informações" que circulavam na internet — isso foi em meados de fevereiro, imagina como eu estava em agosto. Em alguma edição cheguei a escrever sobre isso e até mudei o funcionamento do projeto: remodelei a periodicidade para enviar novas edições apenas quando tivesse algo relevante para compartilhar; propus versões pagas para quem quisesse receber toda semana (não deu certo porque a maioria não pagou). Mas depois de um tempo eu parei totalmente.
Isso também porque, além da fadiga em acompanhar tanta notícia, aconteceu também a falta de tempo para escrever. Quer dizer, continuei escrevendo compulsivamente, mas acabei pegando mais trabalhos em que eu precisava escrever profissionalmente todos os dias, durante o dia inteiro, e quando chegava em casa eu simplesmente não conseguia abrir o computador para escrever mais nada. Soma-se à isso o nascimento e crescimento do meu filho (ele fez um ano em junho), com todos os novos compromissos, comprometimentos e responsabilidades que isso envolve.
Mesmo assim, confesso que senti falta de escrever isso aqui e vira e mexe pensei em retomar o trabalho. Recebi mensagens de assinantes perguntando o que tinha acontecido e amigos querendo saber quando eu ia voltar. Eu queria voltar. Pensava nisso com frequência. Mas sabia que para voltar teria que ser diferente.
Recomeçar
Passei uns meses planejando um novo formato para O Leitor. Como isso poderia funcionar agora? Neste tempo surgiram várias newsletters com o mesmo propósito, mais equipadas, com uma equipe de jornalistas profissionais trabalhando duro, o que possibilita edições novas todos os dias. E mais ainda: surgiram aplicativos que fazem um trabalho inimitável selecionando notícias de acordo com as preferências de cada usuário (ou seja, usando o tal algoritmo). Portanto, agora não faz mais sentido ficar enviando links com assuntos que eu catava na mão, alguns que talvez só fossem interessantes para mim mesmo. Outra razão justa, justíssima, é que não quero ficar alimentando esta roda hipnótica de informações vazias que as redes sociais geraram.
Então, o que eu poderia oferecer para você?
Ler e escrever são partes fundamentais do meu processo de estudos, pesquisa e criação. Sou escritor, cartunista, roteirista, trabalho criando conteúdo de não ficção para diversos meios. Durante o desenvolvimento do meu trabalho costumo tomar notas sobre o que estou fazendo, lendo, estudando, e faço isso como parte do processo de criação mesmo. Compartilhar anotações do que tenho lido, discutido e pensado é o que posso oferecer de mais exclusivo. A minha melhor oferta é enviar e-mails que misturam assuntos, registros, relatos e impressões sobre leituras diversas, a cultura e o trabalho artístico no país, na tentativa de estabelecer uma comunicação direta e íntima de ideias.
Novo formato
Por enquanto não haverá uma periodicidade. Quero tentar enviar um e-mail por semana, mas não posso garantir. Quero remar contra essa corrente dos produtores de conteúdo online que dizem que se deve produzir muito, o tempo todo, a todo momento, mesmo que sejam coisas curtas. Não. Eu pretendo priorizar a qualidade do conteúdo ao invés da quantidade e não quero ficar enchendo os assinantes com bobagens a todo instante. Já temos distrações demais.
E vez ou outra espero também contar com colaboradores. A troca com os assinantes é fundamental. Gosto de receber os e-mails que me mandam e procuro responder todo mundo.
Se você ainda está se perguntando "o que diabos vai ser isso daqui?", então eu posso resumir: vou enviar uma carta para você com ideias sobre as coisas que li, vi, ouvi, fiz, vivi; e você, se quiser, responde daí. É assim, uma troca de cartas sobre as coisas que rondam as nossas cabeças.
Tudo bem pra você?


