Foi ao ar no final de novembro a entrevista que Rogério Skylab fez com o cantor Júpiter Maçã. Vou repetir, Rogério Skylab entrevistou Júpiter Maçã.
Ou você coçou a cabeça pensando “nunca ouvi nomes tão alienígenas”, ou você pensou “a junção desses dois eu não perco por nada.” Eles deveriam fazer uma banda chamada Rogério Skylab Júpiter Maçã. Se você é um dos que coçaram a cabeça, então pode saber mais sobre cada um aqui: Skylab e Júpiter.
A entrevista editada tem doze minutos e foi feita como último episódio do programa Matador de Passarinho, apresentado pelo Skylab. Adoro o seu jeito de entrevistar, meio despretensioso, como se jogasse conversa fora. Além disso, Skylab e a produção escolhem seus convidados à dedo, e não porque estão fazendo sucesso ou lançando discos, livros ou filmes. Não é meramente divulgação de produto, mas de criar um espaço para pessoas que estão fazendo algum tipo de trabalho autoral poderem expressar suas ideias. Já passaram por ali Arrigo Barnabé, Jards Macalé, Tim Rescala, Claudio Assis, Romulo Fróes, Lourenço Mutarelli, Michel Melamed, Mario Bortolotto, André Dahmer, Amir Haddad… a lista é enorme e conta com nomes inusitadamente instigantes como Rita Caddilac, Gil Away, Narcisa Tamboredeguy.
Mas nada se compara à entrevista com o Júpiter Maçã.
Visivelmente em um estado, digamos, especial, o convidado chegou até a “cochilar” quando lhe foi perguntado sobre sua vida pessoal. Com uma locução embolada, às vezes é necessário voltar o vídeo para entender o que ele está dizendo. Júpiter começa explicando como chegou em São Paulo para a entrevista, “umas meninas vieram me masturbando dentro do avião.”
Depois fala que Syd Barret é seu maior mestre. Em três minutos de entrevista ele enfia as mãos para dentro da calça e se compara à Marlon Brandon, no que Skylab pergunta “Por que você não se masturba agora?”
O auge da entrevista, ao meu ver, é quando ele diz que é o Robert Plant do Led Zeppelin e também o Bon Scott do AC/DC, e em seguida começa a imitá-los.
Assim que o vídeo começou a ser compartilhado, vi comentários de todo tipo. Uns diziam que Júpiter era um gênio, um artista único, outros lamentavam, diziam que era uma vergonha, que ele deveria se tratar.
A minha opinião? Eu achei a entrevista foda.
Dentro de mim pensei que era isso que estava faltando na nossa mídia de entretenimento. Artistas que não se limitam ao formato e às curtidas do público, patrocinadores, empresários de comunicação. No passado era mais comum, procure entrevistas antigas com Cazuza, Renato Russo, o jovem Caetano Veloso, Paulo Leminski, por exemplo. Mas hoje o denominador comum é o falso cordialismo e os dentes da simpatia programada estampando capas e revistas, transmitidas em programas de TV, sites na internet, etc.
É o mal do “eu curto”, tudo é feito para ser curtido dentro da decência da cultura sanitária. Artistas como Júpiter Maçã, por não compactuarem ou se submeterem à esses padrões, são jogados para fora da programação.
Destaco ainda a chamada título para o vídeo no site do Canal Brasil (hospedado no Globo.com), “No final da temporada, Skylab recebe o excêntrico cantor Júpiter Maçã.” Vem desde o título a afirmação da diferença. Para mim Júpiter Maçã não tem nada de excêntrico. Pelo contrário, me esbarro e sou amigo de muitos como ele. Excêntrico pra mim é o Bruno Gagliasso. Excêntrico pra mim é o Chay Suede. O Fiuk. O problema é que está todo mundo acostumado com muito desse excentrismo e pouco do outro, por isso fica tudo pasteurizado, inexpressivo. Às custas da disputa de grana e território, acabamos contemplando a cultura mais niilista de todos os tempos. Se a arte é exceção à regra cultural, como disse Jean-Luc Gordard, e se é arte o que queremos, então precisamos de mais espaços para os artistas de verdade poderem assinar suas personalidades e suas opiniões sobre as coisas.