Artistas estão sendo substituídos por IA
Como a IA desafia a autenticidade na arte contemporânea e o risco de substituir presença criativa por produção automatizada
Essa não é uma reclamação, é uma pergunta que tem sido muito discutida em ambientes de trabalho criativo: o que rola quando a IA entra no lugar dos artistas?
Na esquerda está um auto retrato que fiz a partir de uma fotografia. Na direita está a versão feita pela IA.
Ok, o resultado robotizado é eficiente, bem acabado, tem àquela estética de animação ou livro infantil. Mas vamos concordar que é meio sem graça (apesar desse sorriso, de onde veio?). Falta algo genuíno (alguns dirão “alma”). Parece uma criação de plástico. O que sobra em linhas perfeitas falta em personalidade.
Portanto, o que perdemos quando trocamos a imperfeição humana pela perfeição algorítmica?
A IA é rápida, acessível e produz em escala. Mas o que entrega é uma espécie de simulacro: imagens derivadas, recicladas, genéricas. Um remix do que já vimos milhares de vezes. Funciona? Talvez. Mas marca? Humm…
Cada traço feito por um artista carrega biografia, a pressão inconsistente do lápis revela ansiedade, a escolha de cores ecoa memórias afetivas, as proporções "erradas" espelham nossa percepção singular do mundo. A IA, por mais sofisticada que seja, replica padrões sem carregar essa bagagem emocional. É um espelho que reflete tudo, mas falta o sentimento de quem observa, pensa, sente.
Pois muitas vezes a arte nasce de traumas específicos, obsessões pessoais e experiências que nenhum algoritmo consegue simular.
O fantasma na máquina
Essa é uma questão que vai além da qualidade técnica. É sobre presença.
As telas de Basquiat só existem porque ele navegou entre dois mundos (a rua e as galerias) carregando o peso da identidade negra numa América que o fetichizava e o rejeitava ao mesmo tempo. Da mesma forma, o horror gótico de Mary Shelley em Frankenstein emerge de suas perdas reais: a morte prematura da mãe, filhos que não sobreviveram, o isolamento intelectual numa sociedade que silenciava mulheres. Franz Kafka sentiu na pele a alienação que transformou em literatura — a IA até pode editar um texto no estilo kafkiano, mas não o criaria pois não viveu o labirinto burocrático que ele descreveu.
Uma criação humana é bela em suas irregularidades, e isso nos conecta ao artista. A IA é uma ferramenta útil e poderosa, mas substituir pessoas por máquinas não é inovar, é apagar o que é autêntico. O perigo está quando confundimos eficiência com inovação e reprodução com criação.
Enquanto ganhamos tempo com a automação criativa, vale questionar: estamos usando esse recurso para criar algo mais profundo, ou apenas para produzir mais do mesmo, mais rápido? Quando se troca criação por geração automática, o que se economiza pode custar caro em autenticidade.
Penso na nossa habilidade de transformar vulnerabilidade em arte, imperfeição em beleza, e experiência vivida em conexão genuína. Reflito se a gente está ganhando tempo… ou perdendo algo bem mais profundo.
Mais demais
Quem me acompanha sabe do meu interesse por processos criativos. Para mim, essas questões não são apenas sobre uma forma de expressão, mas também um meio de explorar e compreender o mundo. Se você gostou deste texto, talvez se interesse pela interação entre limitação e criatividade e como impor restrições pode impulsionar nossa capacidade de inovar.
Isso se conecta diretamente com os cinco princípios fundamentais para estimular a criatividade. Compilei dicas que você pode fixar na parede para ter sempre em mente.
Minha experiência me ensinou que a comparação com os outros é o que mais desanima em qualquer processo artístico. Por isso, acredito que usar a frustração para desenvolver sua própria voz é um verdadeiro "hack".
Obrigado pela companhia e beijo no abraço.
Acho que no fundo, ninguém se importa se tem alma ou não, se foi feito por um artista ou não, se tem humanidade ou não.
Não é isso que vai fazer uma empresa deixar de usar IA e adotar o trabalho humano. O que vai fazer elas desistirem de IA (se continuar do jeito que está) é: direitos autorais.
As empresas querem ser donas das artes e das campanhas que criam, mas com IA não dá para ser. O caso da Marisa Maiô mostrou isso.
A ideia pode ser muito boa (ou não, depende do ponto de vista), mas qualquer um pode pegar para si e usar, pois não pertence a “ninguém”.
As empresas começaram a usar IA pois economizavam dinheiro e vão parar de usar pois vão perder dinheiro. Simples assim.
Dinheiro é a única coisa que importa para essas empresas.
As IAs tem os dados, nós temos histórias. Creio que isso nunca mudará, (será? Kkk).
Mas se no futuro a sociedade não se importar com o que é real e o que não é... sei lá cara, lascou.
Acho que se chegar nesse nível, não só as artes irão "morrer", mas a própria humanidade.
Seu texto é (como se diz aqui em João Pessoa) muito show!